21/03/2019

100 mil pontos

André d’Almeida Monteiro, Diretor de Riscos da B3


O Ibovespa ultrapassou, pela primeira vez, o valor de 100 mil pontos na era do real, desde 1994. Muitas e merecidas foram as saudações a esse evento. Por trás do simbolismo de um número redondo, existem muitas razões, relacionadas tanto ao passado quanto ao futuro, para que os investidores que acreditaram no Brasil comemorem.

Há quase 200 anos, a B3 recebe empresas que desejam obter mais recursos para crescer e investidores dispostos a prover-lhes financiamento tendo uma fatia de participação nestas como contrapartida. Atualmente, 336 empresas estão na B3. O valor total de suas ações é de R$3,9 trilhões de reais.

Como monitorar o comportamento de centenas de ações simultaneamente é tarefa árdua, índices de ações são utilizados para fornecer uma visão agregada de todo o mercado acionário ou de partes dele. Tais índices são médias dos preços das ações que os compõem. A B3 possui 23 deles. O mais importante é o Ibovespa. Lançado em 1968, ele agrega o comportamento das ações mais relevantes do Brasil, representando 85% do valor total das ações brasileiras. Os seus 100 mil pontos indicam que uma carteira composta por suas ações, ponderada pela relevância de cada uma delas, vale R$100 mil.

O Ibovespa é um dos principais preços da economia brasileira, assim como a taxa de juros, a taxa de câmbio e a inflação. É o termômetro da saúde das principais empresas do Brasil. Para acompanhar a economia brasileira, portanto, é preciso acompanhar o Ibovespa.

A marca dos 100 mil pontos celebra os desafios enfrentados e superados pelo país no passado recente. O Brasil passou, em 2015 e 2016, pela pior crise econômica de toda sua história, resultado de suas próprias decisões (equivocadas) de política econômica. Debelou um repique inflacionário. Impediu uma presidente da República do cargo. Por duas vezes, quase impediu o vice-presidente que a sucedeu. Fez uma reforma trabalhista relevante e deu passos na direção da recomposição fiscal. Trouxe as taxas de juros para patamares mais civilizados de maneira correta. Passou por um processo eleitoral estressante em 2018.

Esses eventos “fizeram preço no Ibovespa”, que passou por muitos solavancos, mas acabou capturando a superação do país. Quem investiu R$10 mil no índice no pior momento de 2015 possui R$27 mil com seu valor a 100 mil.

Os preços das ações e de seus índices, por consequência, possuem um conteúdo informacional especial. Eles refletem as expectativas dos investidores para o futuro das empresas. Por essa razão, índices de ações são empregados no mundo inteiro como indicadores do desempenho futuro das economias.

A marca dos 100 mil pontos celebra as oportunidades que estão à frente do país. A reforma da previdência retiraria o Brasil da trajetória de desastre fiscal e reduziria privilégios indefensáveis. As privatizações de empresas estatais aliviariam o peso fiscal e reduziriam as possibilidades de corrupção e de aparelhamento da máquina pública. As medidas de combate à corrupção e ao crime organizado trariam segurança e tranquilidade à população. A história econômica afirma inequivocamente que, sem lei e sem ordem, não há crescimento. A redução da burocracia e reforma fiscal melhorariam o ambiente de negócios no país, ampliando a quantidade e qualidade de empresas e empregos. A maior abertura comercial do país acarretaria melhores opções para os seus consumidores e aumento da produtividade de sua economia.   

As oportunidades acima “estão no preço do Ibovespa”. O índice reconhece o fato de elas terem sido colocadas na mesa para discussão e lhes atribui alguma probabilidade de sucesso, dado que sua materialização é uma tarefa complexa e desafiadora. À medida que o governo for entregando resultados, a probabilidade atribuída ao sucesso irá aumentando. O inverso é verdadeiro.

Além da mídia, quem mais comemorou o recorde do Ibovespa? Os investidores que possuem ações na B3, as empresas listadas e aquelas que fazem parte de suas cadeias produtivas. Nós da B3 também comemoramos, já que trabalhamos em todas as etapas do mercado de ações. O desenvolvimento e a viabilização dos mercados financeiro e de capitais é a nossa causa.