30 anos do Plano Real

São Paulo, 5 de julho de 2024 - Nesta semana é celebrado o aniversário de 30 anos da implementação do Real.  A introdução do novo padrão monetário ocasionou a necessidade de uma rápida atualização no mercado financeiro, já que todos os ativos, negociados em cruzeiros reais, passaram a ser negociados na nova moeda.

Em julho de 1994, a bolsa de valores de São Paulo era a Bovespa. As operações concentravam as negociações de ações à vista, opções e fundos. A bolsa, que hoje conhecemos como B3, foi criada a partir da fusão de três empresas. A Bovespa e BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) tiveram seus negócios combinados em 2008 e então se uniram à Cetip (Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos), em 2017, criando a B3.

A partir da data de instauração da nova moeda, em 1º de julho, os mercados de ações passaram a ser negociados em reais. As cotações de todos os papéis negociados nos cinco últimos pregões foram convertidas em reais, usando como base a URV.

Durante a transição para o Real foi instituída a URV (Unidade Real de Valor), moeda escritural que vigorou de março a junho de 1994. Para facilitar a conversão, foi estipulado que 1 real equivalia a 1 URV que, por sua vez, equivalia a 2750 cruzeiros reais.

André Demarco, atual diretor de autorregulação da BSM, atuava como controlador de posto no pregão viva voz, em 1994, e conta que há 30 anos o cenário na bolsa de valores era bastante diferente. “Eram poucas empresas negociando ações e a liquidez era muito menor do que hoje em dia, mas o pregão era intenso. Os operadores negociavam presencialmente as ações de aproximadamente 10 companhias, apenas as de maior liquidez, mas que correspondiam a 95% das negociações realizadas na bolsa. Cada companhia tinha um posto de negociação e um controlador para gerenciar a compra e venda dos papeis. As ações com baixa liquidez já eram negociadas por meio de sistemas eletrônicos chamados CATS e WINCATS”, explica.

Quando os operadores negociavam as ações, de acordo com os pedidos dos clientes, eles tinham que preencher cartões de negociação com informações como código da empresa, quantidade de ações, código do vendedor, código do comprador e preço. Esse cartão era conferido por um funcionário da bolsa e os dados eram inseridos no sistema. “Todos os sistemas tiveram que passar por uma atualização, mas a mudança da moeda não afetou o funcionamento da bolsa. Talvez a maior dificuldade tenha sido para os operadores mudarem a moeda de um dia para o outro nos cartões, sem errar o preço, já que tudo era feito manualmente. Mesmo assim, havia diversos mecanismos para evitar que um preço fosse registrado com erro”, comenta Demarco.

De acordo com o Boletim Diário divulgado pela Bovespa, referente às negociações realizadas em 1º de julho de 1994, o Ibovespa, principal indicador do desempenho médio das cotações das ações negociadas, fechou o dia em 35.808 pontos, com queda de 1,1% em comparação ao dia anterior. O índice contava com 56 empresas em sua carteira.

“Antes de 1994, com a hiperinflação, o Ibovespa sofria grande volatilidade. Era comum ver o índice registrar alta de 80% em um dia, por exemplo, mas a taxa da inflação também acompanhava essa curva. O que não aconteciam eram quedas bruscas no índice, tanto que ainda não existia o circuit break, que só foi criado em 1997”, lembra Demarco.  

Durante o primeiro dia do Plano Real foram realizadas 4.204 operações na Bovespa entre lotes-padrão, opções, fundos e mercado fracionário. O valor negociado, já na nova moeda, foi de R$ 74.974.160. As opções de compra tiveram grande destaque naquele dia, correspondendo a 14% dos negócios realizados na bolsa. Considerando apenas a negociação de ações e, lotes-padrão, foram realizadas 1.805 operações, somando R$ 63.615.470. 

Em 1º de julho de 1994, a Bovespa tinha 280 empresas listadas. No entanto, apenas 119 empresas tiveram ações negociadas naquele dia. As ações mais negociadas no mercado à vista foram as das empresas Telebrás, Petrobras, Eletrobrás e Continental.